A procura por bulldogs franceses albinos tem aumentado no Brasil, impulsionada sobretudo pelas redes sociais. A geneticista Fabiana de Andrade, cofundadora da Petgenoma, adverte que esta tendência coloca em causa o bem-estar animal e pode configurar maus-tratos.
Albinismo não pertence ao padrão da raça
O albinismo resulta da ausência total de melanina, pigmento responsável pela cor da pele, do pêlo e dos olhos. A mutação é recessiva, rara e não faz parte de qualquer padrão racial canino. Segundo a especialista, criadores éticos realizam testes genéticos para identificar portadores e evitam acasalamentos que transmitam o gene. Já alguns criadores focados no mercado de “cães exóticos” recorrem a cruzamentos entre parentes próximos para “fixar” a característica, prática que aumenta o risco de doenças congénitas.
Problemas de saúde associados
Bulldogs franceses já apresentam predisposição para dificuldades respiratórias e ortopédicas. Quando a estes fatores se soma o albinismo, os riscos multiplicam-se: surdez, deficiências visuais e maior probabilidade de cancro cutâneo. A ausência de melanina reduz a proteção natural da pele e afeta células do ouvido interno e dos olhos, comprometendo audição e visão.
Falta de regulação e impacto legal
No Brasil, não existe legislação específica para reproduções que envolvam mutações como o albinismo. Ainda assim, a Lei de Crimes Ambientais e uma resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária classificam como infração o acasalamento com elevado potencial de transmitir doenças hereditárias. A ausência de registo oficial para cães “exóticos” dificulta o controlo de pedigree, favorecendo a consanguinidade e reduzindo a esperança de vida dos animais.

Imagem: canaldopet.ig.com.br
Recomendações para criadores e tutores
Fabiana de Andrade aconselha a realização de testes que avaliem braquicefalia, malformações vertebrais, catarata precoce, cistinúria e hérnia discal antes de qualquer reprodução. Para tutores de cães albinos, a prioridade é limitar a exposição solar, aplicar protetor adequado e monitorizar lesões cutâneas. Alterações auditivas ou visuais não podem ser revertidas, reforçando a importância de evitar o nascimento de filhotes portadores.
A geneticista sublinha que pêlo branco não significa albinismo: raças como Samoieda ou Husky Siberiano apresentam coloração clara, mas produzem melanina e não enfrentam os mesmos riscos. O alerta é claro: a estética não pode sobrepor-se à saúde dos animais.